As últimas reservas naturais estão à mercê dos madeireiros inescrupulosos que,
com o objetivo do lucro imediato, derrubam as melhores árvores e não se
preocupam com o posterior reflorestamento. Com isso, não
garantem a sustentabilidade da atividade e colocam em risco a própria
sobrevivência do setor.
Com um mercado sempre crescente e cada vez mais exigente em qualidade,
seria fora de propósito proibir a derrubada de matas naturais se não
houvesse a alternativa de utilizar a madeira oriunda de
reflorestamento. Em comparação com outras modalidades de uso da
terra, o reflorestamento ou plantio comercial de espécies arbóreas é a
atividade agrícola que mais se recomendada para a conservação do solo,
proteção dos mananciais e a recuperação de áreas degradadas.
Precisamente, por este motivo, é que se considera a silvicultura e
os cultivos perenes como os mais indicados sistemas de uso da terra
para regimes de clima tropical, onde são mais graves os riscos de degradação
do solo através da erosão e lixiviação.
Efeito do uso do solo de perdas por Erosão
|
Uso do solo
|
Perda por Erosão
|
Tempo (anos) para desgaste de uma camade de 15 cm de solo
|
Terra (t/ha)
|
Água (% de cuva)
|
Mata
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0,0004
|
0,7
|
440.000
|
Pastagem
|
0,4
|
0,7
|
4.000
|
Cafezal
|
0,9
|
1,1
|
2.000
|
Algodoal
|
26,6
|
7,2
|
70
|
-Fonte: IAC Campinas (SP) |
Acredita-se que, se não for cumprido um rigoroso programa de florestamento e reflorestamento,
o Brasil encontrará três alternativas bastante desagradáveis e um tanto absurdas, face às excepcionais
condições que o Brasil possui para produzir madeira, em larga escala:
a) Reduzir o processo de desenvolvimento, diminuindo o consumo de madeira;
b) Lançar mão das reservas naturais e, principalmente, da Floresta Amazônica;
c) Importar a madeira necessária de outros países mais previdentes, sacrificando, ainda mais, a balança
de pagamentos e aumentando a dívida externa.
O Brasil é um país de dimensão continental e de condições de clima e solo altamente favoráveis
para a implantação de florestas. O desenvolvimento das espécies exóticas utilizadas, principalmente
o pinus e o eucalipto, demonstra resultados espetaculares, com ciclos silviculturais entre 6 e 7 anos,
bem diferentes dos países de grande tradição florestal, como a Suécia, Canadá e Austrália, cujos ciclos
nunca são inferiores aos 60 e 80 anos.
Além das condições naturais bem favoráveis, o Brasil possui excedentes de mão-de-obra no meio
rural, bem como considerável domínio tecnológico nas atividades ligadas à formação de florestas e produção
de madeira.
O eucalipto não foi escolhido por mero acaso, como o gênero potencialmente mais apropriado, mas foi
uma escolha em função das inúmeras vantagens, destacando-se algumas:
a) Rápido crescimento volumétrico e potencialidade para produzir árvores com boa forma;
b) Características silviculturais desejáveis, como bom incremento, boa forma, facilidade a programas
de manejo e melhoramento, tratos culturais, desbastes, desramas etc;
c) Grande plasticidade do gênero, devido à grande diversidade de espécies, adaptando-se às mais diversas
condições;
d) Elevada produção de sementes e facilidade de propagação vegetativa;
e) Adequação aos mais diferentes usos industriais, com ampla aceitação no mercado.
Para o caso específico do Brasil, o eucalipto possui um caráter estratégico, uma vez que a sua madeira
é responsável pelo abastecimento da maior parte do setor industrial de base florestal. Basta citar
alguns números para se avaliar quão importante é a sua participação na economia nacional.
Da madeira de eucalipto, atualmente, se produzem por ano, no setor de celulose, 5,4 milhões
de toneladas de celulose, representando mais de 70,0% da produção nacional; número também
impressionante é o setor de carvão vegetal, com uma produção anual de 18,8 milhões de m³, representando
mais de 70,0% da produção nacional; outro setor importante é o de chapa de fibra, com uma produção anual
de 558 mil m³, representando 100.0% da produção nacional; o setor de chapas de fibra aglomerada produz 500 mil m³, representando quase 30,0% da produção nacional.
O reflorestamento desempenha um papel importante como fator de desenvolvimento sócio-econômico em
nível regional e nacional. Mais do que isto, o reflorestamento deveria ser encarado como a própria salvaguarda
das reservas naturais do País. Olhado sob esse prisma, o eucalipto passa a ser uma espécie
altamente ecológica, porque poupa as reservas nativas de serem utilizadas em nome do progresso
de um povo. E o eucalipto, embora espécie exótica, oriunda da Austrália, é a espécie de maior presença nas
atividades de reflorestamento, em função das vantagens mencionadas anteriormente.
É evidente que o reflorestamento, feito sob o interesse industrial, de produzir florestas homogêneas
e de grande produtividade, não substitui a floresta natural em toda sua biodiversidade. Em razão disso,
alguns "arautos da Ecologia", leigos ou fanáticos, consciente ou inconscientemente, procuram maximizar
os problemas e dramatizar as conseqüências. A maioria das críticas às atividades de reflorestamento
é meramente poética, sem qualquer consistência técnica e é emitida por curiosos ou leigos da Ecologia, uma
ciência muito importante, mas que muitos se julgam doutores sem o serem. Tais elementos se valem das falhas
ocorridas na implantação e manejo dos primeiros povoamentos, quando por falta de escrúpulo e de conhecimentos
técnicos, cometeram-se verdadeiros crimes contra a natureza.
Na maioria das vezes, o grande culpado pelas alterações do ambiente não é o eucalipto em si e nem a floresta, mas
o próprio empresário, devido ao pouco preparo técnico.
A questão dos efeitos ambientais das plantações de eucalipto parece, hoje, tão indefinida quanto a própria
origem dessas especulações. As polêmicas sobre a cultura sempre foram acirradas e há os que atribuem
a ela a destruição das matas nativas, o empobrecimento do solo, o esgotamento da água e redução
da biodiversidade animal e vegetal; além disso, reduz as oportunidades de trabalho na região onde
é plantada, aumentando o êxodo rural. De outro lado, há os que consideram o eucalipto como a única
alternativa capaz de evitar a destruição dos remanescentes de mata nativa.
Polêmicas à parte, é preciso que as questões emocionais dêem lugar a evidências científicas.
Inúmeros questionamentos se fazem ao comportamento do eucalipto, em vários países.
A sua natureza exótica causa arrepios naqueles nacionalistas eufóricos. Chegam, mesmo, a questionar
sobre a existência de alguma espécie nativa que possa substituir a espécie "alienígena"; outros, ainda,
procuram relacionar o eucalipto e a Austrália, país de origem e muito seco, e forçando uma correlação entre a árvore e o meio.
O eucalipto chegou à Europa em 1774 pela crença generalizada em seu poder milagroso contra ]
a malária e outras doenças. Não se conhecia, à época, a etiologia da malária e o eucalipto cumpriu
seu papel "milagroso", diminuindo os casos da doença, com a eliminação do encharcamento dos pântanos.
Em 1871, ao contrário, a introdução do eucalipto no estado do Rio de Janeiro, no Brasil, coincidiu com
um surto de febre amarela; não é preciso dizer que, em 1882, na cidade de Vassouras, todas as árvores
de eucalipto foram arrancadas pelo povo como responsáveis pelo aparecimento da doença na cidade.
Um questionamento por demais importante é relacionado ao consumo de água, com a alegação de
que a espécie é considerada "ressecadora de solo e precursora de desertos". Outro questionamento é
quanto à sua possível influência sobre o solo, tanto do ponto de vista de proteção quanto das propriedades
físicas, químicas, efeitos alelopáticos sobre a microflora e de seu esgotamento, em função da alta demanda
de nutrientes pela cultura do eucalipto. Outro questionamento sobre o eucalipto é quanto à formação
de monoculturas extensas, caracterizadas por apresentar baixa diversidade ecológica, resultando em
instabilidade ou vulnerabilidade a mudanças climáticas ou ataque de doenças e pragas.
Não se pode perder de vista que o gênero Eucalyptus possui mais de 700 espécies, com genótipos
adaptados às mais variadas condições de solo e clima. A existência essa variação intra-específica
em relação aos fatores ambientais já foi confirmada para uma série imensa de espécies, sendo
extremamente difícil e temerário fazer generalizações.
Parte das críticas contra o eucalipto é conseqüência de expectativas frustradas, como resultado de
programas malsucedidos de reflorestamento. Especificamente, no Brasil, as falhas ocorridas na implantação
e manejo dos primeiros povoamentos contribuíram para a formação de florestas desuniformes e com baixa
produtividade. O insucesso dos reflorestamentos iniciais se deveu aos seguintes fatores:
a) Inexistência de trabalhos específicos que norteassem o estabelecimento de novas florestas;
b) Planejamento inadequado do uso da terra, com a utilização inadequada das áreas, da quantidade
e qualidade de fertilizantes, manejo incorreto do solo, com a falta de uso de técnicas conservacionistas etc.
c) Escolha inadequada de espécies/procedências, em razão do desconhecimento das espécies, inexistência
de sementes melhoradas e de programas de melhoramento etc.
d) Falhas na política, legislação e, principalmente, na fiscalização, permitindo-se a evasão de recursos, a
substituição total da floresta natural pela plantada e o abandono de muitas propriedades após o segundo ano
de plantio.
A despeito de muitos problemas com os reflorestamentos iniciais, a elevada demanda de
matéria-prima florestal exige a implantação de monoculturas.
Porque uma cultura exótica?
O conceito de espécie exótica não deve ter limites políticos, mas apenas e estritamente ecológicos e históricos.
Toda espécie requer uma série de exigências quanto aos fatores do meio. Dentro do amplo espaço
ecológico, existem espaços menores que apresentam algum fator de restrição ao completo
desenvolvimento da espécie, assim como existem espaços menores que apresentam um conjunto
de fatores ambientais que permitem o máximo aproveitamento pela espécie. As comunidades naturais
não são estáticas e a introdução de espécies exóticas é bem aceita dentro do conceito moderno da ecologia
evolucionária.
Os cientistas afirmam que nem o estágio de clímax das florestas naturais é condição única para a existência
de estabilidade e nem a atividade de reflorestamento com eucalipto representa uma atuação antrópica
despropositada. Quando se comparam espécies agrícolas e florestais, há uma duplicidade de valores.
As grandes culturas agrícolas do mundo são exóticas, sem quaisquer contestações, como é o caso do
milho, trigo, arroz, batata, mandioca, café, cana-de-açúcar etc. Além do exotismo dessas culturas,
não se contesta o seu impacto quanto à elevada demanda de nutrientes minerais e de irrigação,
ao uso intensivo do solo, à perda de solo por erosão, ao uso de pesticidas, à adoção de monoculturas
extensivas etc.
O eucalipto resseca o solo?
Qual seria o efeito da cultura de eucalipto sobre o funcionamento hidrológico? Qual seria o impacto
da cultura sobre a disponibilidade de água no solo? É preciso se analisar que o fenômeno de
ressecamento do solo poderia ser o resultado de uma diminuição cíclica das chuvas; poderia ser conseqüência
da intensidade de uso do solo, do aumento da população e de áreas urbanizadas e industrializadas, do aumento
do uso do fogo, do aumento das áreas de pastagem, fatores estes que, somados, conduzem a uma
compactação e revestimento, com uma conseqüente gradual diminuição de infiltração de água no solo.
Em condições tropicais, com a estação chuvosa bem concentrada em alguns meses do ano, o funcionamento
hidrológico é, normalmente, mais vulnerável aos impactos resultantes das atividades do uso da terra.
Com a diminuição da infiltração, a água da chuva tende a escoar superficialmente pelo terreno,
diminuindo a recarga subterrânea. O aumento da utilização dos reservatórios de água subterrânea
para irrigação e abastecimento público pode contribuir para o abaixamento do lençol freático,
diminuindo o fluxo das nascentes e dos cursos d´água durante a estação seca. À medida que o
efeito hidrológico foi ficando mais evidente, as plantações florestais foram se tornando alvo de críticas.
Quando se analisa o balanço de água numa floresta, deve-se levar em consideração a interceptação,
evaporação, transpiração e escoamento superficial da água. A maioria das críticas ao eucalipto é
relativa à transpiração. Mesmo dentre as diferentes espécies do gênero Eucalyptus, existem diferenças
marcantes. O Eucalyptus camaldulensis, espécie muito plantada no cerrado mineiro, onde
a deficiência hídrica é elevada, apresenta uma transpiração muito baixa, quando comparada com
Eucalyptus urophylla e Eucalyptus pelita. Alguns pseudocientistas chegaram a afirmar que o eucalipto
poderia consumir até 360 litros de água por dia. Num espaçamento de 2 x 2 metros,
isso equivaleria a uma evapotranspiração diária de 90 milímetros, o correspondente à cifra
astronômica de 16.425 milímetros anuais. Por certo, tais valores são irreais e contrariam
todas as bases científicas,
levando-se em conta a quantidade normal de energia solar disponível para a evaporação da
água, onde o limite máximo de evotranspiração anual é de 1.500 milímetros anuais
e a ação dos estômatos que realiza efetivo controle biológico do processo de transpiração da planta.
Outras culturas, até mesmo anuais, como as agrícolas, demandam maior quantidade de água
que o eucalipto, no período de máxima atividade vegetativa. Um dos maiores pesquisadores da área,
Walter de Paula Lima, da ESALQ-USP, afirma que diferentes espécies florestais podem apresentar uma
similaridade nas taxas de evotranspiração total e relaciona inúmeros trabalhos internacionais que
comprovam que o controle estomático da transpiração das espécies de eucalipto é muito semelhante
ao de outras espécies florestais. Os valores de perdas por interceptação nas plantações de eucaliptos
são semelhantes e até menores que os observados em condições de floresta natural. Em função da alta
taxa de crescimento, há uma conseqüente alta taxa de consumo de água, mas altos valores de eficiência
de água do solo. Comparando-se a eficiência do uso da água, em termos de biomassa/kg
de água consumida, têm-se: Pongamia pinnata, 0,8; Prosopis juliflora, 1,7; Albizzia lebbek, 1,7;
Eucalyptus tereticornis, 1,9. Comparando-se a eficiência do uso da água para algumas culturas agrícolas,
tem-se que, para cada quilo de água, uma produção de 0,98 grama de trigo, 0,05 grama de feijão,
1,8 grama de açúcar, 1,08 grama de milho e 0,6 grama de batata.
Extração de Nutrientes por diversas culturas
|
Cultura
|
Produtividade (ha)
|
Extração (kg/ha/ano)
|
Eucalipto
|
45 (st/ha/ano)
|
67,5
|
Cana
|
85 ton
|
301
|
Capim colonião
|
23 ton
|
43
|
Laranja
|
5 caixas/pé
|
199,4
|
Cacau
|
1,5 ton
|
174,2
|
Seringueira
|
0,6 ton
|
8,7
|
Café
|
2 ton
|
140,7
|
-Fonte: IAC Campinas (SP) |
Comprovando essa eficiência no uso da água, os pesquisadores utilizaram moderadores
de nêutrons para estudar o efeito das florestas homogêneas de eucalipto sobre o regime
de água e verificaram que a presença de florestas de eucalipto não apresentou qualquer
efeito adverso sobre o regime de água; a retirada de água coincidia com a época de maior
disponibilidade e, aos primeiros sinais de seca, o eucalipto consumia menos água, restringindo
a perda por transpiração.
Outros experimentos comprovaram que as florestas nativas e algumas culturas agronômicas
transpiram tanto ou mais que o eucalipto. Quando comparado com duas essências nativas,
o angico vermelho (Piptadenia rigida) e urundeuva (Astronium urundeuva), verificou-se igual
consumo de água para todas as espécies. A alegada capacidade de crescimento em áreas
encharcadas é muito restrita de algumas espécies, como Eucalyptus robusta, E. camaldulensis
e E. tereticornis A quase totalidade das espécies não suportaria crescer em tais
ambientes e, por certo, ali não sobreviveriam.
Caberiam inúmeros questionamentos sobre a localização, os métodos de implantação e manejo
dos povoamentos, a escolha adequada das espécies e os processos de exploração, que determinam
a influência de qualquer cultura sobre o ciclo hidrológico.
O eucalipto empobrece o solo?
Em função da alta taxa de crescimento, há uma conseqüente demanda de nutrientes do solo.
Cabem aqui algumas perguntas: "Quanto de nutrientes a eucalipto retira do solo? Em termos
comparáveis de produção de madeira, será que as plantações de eucalipto esgotariam as
reservas de nutrientes do solo mais rápida ou exaustivamente que outra espécie vegetal?"
Algumas espécies são afetadas mais severamente do que outras pela deficiência nutricional
e é bem possível que essa adaptação a solos de baixa fertilidade pode significar uma capacidade
de sobrevivência. Embora os solos da Austrália, onde os eucaliptos ocorrem naturalmente, sejam
de baixa fertilidade, não se deve entender que as espécies sejam menos exigentes em todas
as circunstâncias; ao contrário, tais espécies sobrevivem em solos de baixa fertilidade,
mas são bastante sensíveis à fertilização.
Quando comparado a qualquer outra cultura, o cultivo de eucalipto se mostra muito menos prejudicial
ao ambiente devido aos seguintes motivos:
a) Cobertura vegetal conferindo maior proteção ao solo;
b) Maior ciclo de rotação, possibilitando o surgimento de outras plantas no interior dos plantios, formando
o sub-bosque;
c) Menor necessidade de preparo do solo, devido ao longo período de rotação da cultura;
d) Menor utilização de fertilizantes;
e) Maior tolerância da cultura ao ataque de pragas e doenças, acarretando menor necessidade
de utilização de defensivos químicos;
Manejo florestal adequado pode proporcionar a sobrevivência de algumas espécies animais na área de produção.
A influência dos métodos de manejo nos povoamentos florestais sobre a fertilidade do solo deve
ser analisada separadamente para cada nutriente, em razão das diferenças nos processos relativos
à ciclagem no ecossistema. É surpreendente a quantidade de nutrientes contidos nas folhas, ramos
e casca das árvores de eucalipto.
O eucalipto é mais eficiente que as coníferas no processo relativo à ciclagem interna de nutrientes.
Nos últimos anos, tem aumentado a preocupação com o manejo adequado dos resíduos de exploração.
A queima, antes utilizada para a limpeza do terreno, promovia grandes perdas de nutrientes por
volatilização e lixiviação, devido à liberação de nutrientes em quantidade superior à capacidade do solo,
durante a ausência de vegetação responsável pela fixação da biomassa. A queima, ainda, promove uma
redução drástica da matéria orgânica no solo, muito importante nas propriedades físicas, como
mantenedora da fauna do solo.
A idade em que as árvores de eucalipto são cortadas guarda bastante relação com a quantidade de
nutrientes que podem ser removidos do solo. Por ocasião da formação do cerne, que ocorre normalmente
a partir dos oito anos de idade, os nutrientes são, normalmente, translocados da madeira,
onde o cerne deverá conter menos nutrientes que o alburno. Dessa forma, o corte de árvores mais jovens
deverá remover mais nutrientes que as árvores mais velhas. Rotações muito curtas exigem mais do solo e
não possibilitam o retorno de folhas, galhos, casca e restos florais que ajudam a manter a floresta.
O eucalipto possui efeito alelopático?
Uma das críticas ao eucalipto se relaciona ao seu possível efeito alelopático, criando no solo
condições desfavoráveis ao crescimento de outras plantas ou restringindo o crescimento de certas
culturas agrícolas pela proximidade da cultura de eucalipto. Algumas perguntas vêm-nos à mente: será
que o efeito inibitório do campo não seria conseqüência da forte competição por água, nutrientes, luz
e outros fatores do meio?
Estudos mostram que a introdução de uma espécie pode causar alguma alteração na flora local,
como resultado de modificações nas condições microbiológicas do solo. Os especialistas da área
são unânimes em afirmar que os alegados efeitos de alelopatia em eucalipto são, em sua maioria,
devido à competição por água e nutrientes, que se estabelece durante a fase de crescimento rápido.
O eucalipto reduz a diversidade animal?
A quantidade e a diversidade de espécies animais que podem ser encontradas num
dado ecossistema florestal dependem do número de nichos disponíveis do habitat. Nesse caso, seja de
eucalipto ou de outra cultura, qualquer monocultura é reconhecidamente menos capaz de suportar uma
alta diversidade de fauna. Em geral, as monoculturas podem reduzir seriamente a quantidade de energia
e de nutrientes, assim como a disponibilidade temporária de abrigo.
Segundo os especialistas da área, uma plantação florestal, em si mesma, não é uma condição de
completa ausência de fauna. Os pesquisadores afirmam que os quatro requisitos básicos para a
existência da fauna são; alimento, água, abrigo e condições para a procriação. As condições de habitat da
fauna podem ser melhoradas com práticas de manejo florestal adequadas, através de um mosaico de talhões
de diferentes idades, desde áreas recentemente cortadas até povoamentos de diferentes idades e estrutura.
Um dos problemas principais da interação produção de madeira conservação de fauna é a exigência de
certas espécies animais que requerem árvores adultas ou florestas maduras, como habitat adequado.
A conservação da fauna envolve cinco estratégias de ação:
a) Existência de um plano de manejo que envolva a ocorrência simultânea de talhões em
diferentes estágios de desenvolvimento, com arvores adultas ao longo das plantações;
b) Aumento do período de rotação da floresta;
c) Retenção de reservas de florestas naturais sem perturbação;
d) Presença de algumas áreas abertas, sem plantio, uma vez que certas espécies dependem
desse habitat para a sua procriação;
e) Constrição de açudes e represas, bem como o plantio de árvores frutíferas ao longo da área.
A manutenção de fragmentos florestais ao longo da monocultura faz com que eles atuem como
áreas de dispersão e colonização de animais silvestres que, ao adentrarem nas florestas de eucalipto,
darão combate aos insetos que se caracterizam como pragas comerciais.
Tais fragmentos servirão, ainda, para oferecer maior segurança às florestas de eucalipto, com uma
reduzida diversidade biológica, normalmente sujeitas a desequilíbrios ambientais, que resultam
no aparecimento de pragas de difícil controle.
Outro aspecto está na produção de biomassa vegetal no Brasil. Devido à situação tropical predominante, onde a
radiação e a temperatura influenciam na taxa de fotossíntese e, conseqüentemente, na absorção do dióxido de
carbono na atmosfera, o plantio de eucalipto permite a fixação de carbono no solo, possibilita
ao usuário a obtenção de madeira, para fins energéticos, que substitui os combustíveis fósseis
e mantém um ciclo fechado quando transforma a madeira em carvão vegetal para operações
siderúrgicas. Ou seja, libera dióxido de carbono para a atmosfera durante o processo de carbonização,
mas fixa o elemento na fase florestal.
Por tudo isso, observa-se que o eucalipto, como um gênero de inúmeras espécies, não deve ser julgado
indiscriminadamente como um vilão da natureza. Caberão ao empresário florestal o discernimento e o bom senso
na escolha correta das espécies, na adoção de técnicas corretas de implantação, manejo e exploração,
bem como um respeito aos componentes naturais que garantem a sustentabilidade da produtividade florestal.
A adesão ao desenvolvimento não implica necessariamente na destruição da natureza. É de consenso que
devem existir florestas artificiais de alta produtividade, que devem ser bem manejadas, para que
sejam sustentáveis; paralelamente, devem existir as ares de florestas naturais, parcial ou completamente
preservadas, menos produtivas e mais estáveis. Respeitando as regras mínimas de convivência
com a natureza, o homem será capaz de obter lucros e garantir a sobrevivência, sem temores, das
futuras gerações.
Prof. José de Castro Silva
Professor DEF/CEDAF/UFV
Universidade Federal de Viçosa